terça-feira, 22 de julho de 2008

Somente agora se discute: o que fazer?

Artigo

China 1978, por Paulo Vellinho

Em julho de 1978, integrei uma missão do governo brasileiro liderada pelo embaixador Paulo Tarso Flexa de Lima, representando a Confederação Nacional da Indústria. O destino de nossa viagem era Pequim, e o objetivo, viabilizar a troca de minério de ferro brasileiro por petróleo chinês. ..... A abertura da economia já tinha sido anunciada por pressão da sociedade e segundo o nosso guia era irreversível.- A sociedade chinesa, decorridos 30 anos da revolução, era representada por uma sociedade construída com cuidado, desde a nutrição da gestante e das crianças até a qualidade da educação; ou seja, construiu-se uma sociedade homogênea física e mentalmente, capitaneada por 5 mil anos de cultura, extrema habilidade manual, ambição por desafios, desejo de mais conforto e bem-estar, disposição para o trabalho, disciplina e responsabilidade e demanda reprimida de mais de 1 bilhão de habitantes.

De volta ao Brasil, escrevi e falei o seguinte:"Se tudo o que vi e ouvi é verdadeiro e se não houver retrocesso na abertura da economia, o desenvolvimento da China será como uma bola de neve, pequena no início, que irá crescendo na medida em que indústrias sejam implementadas, tecnologias aportadas e a valorização da mão-de-obra abundante e competente for requisitada. A China terá então um mercado emergente, consumidor de commodities, desde os alimentos mais simples aos mais sofisticados, desde as matérias-primas mais comuns, como minerais, por exemplo, até de componentes manufaturados de elevada tecnologia. A China será um país com mais de 1 bilhão de habitantes, aberto para o consumo interno e exportação. Essa nova economia que se fará presente no mercado mundial absorverá os excedentes, desequilibrará a equação de oferta e demanda com a conseqüente valorização de todos os insumos. Espero apenas que isso não aconteça muito rapidamente, a fim de que a prosperidade da nova China não traga acidentes graves no mundo, como, por exemplo, a inflação e o desequilíbrio socioeconômico, principalmente nos países industriais".

Hoje, quando se discute exatamente o que está acontecendo, surpreende-me que o óbvio não tenha sido detectado pelos sábios que vêem o futuro com "bola de cristal" e que os formadores de opinião na área da economia não tenham alertado os países produtores no sentido de se prepararem para uma nova potência, a China, que, saltando por cima dos emergentes e atropelando as sete maiores potências do mundo, tornou-se em poucos anos estrela de primeira grandeza no cenário mundial. Infelizmente a imprevidência e falta de ação trouxeram como conseqüência o desequilíbrio existente e com ele a inflação.

Somente agora se discute: o que fazer?

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